The Ghana Blog

Picture


The Ghana Blog – setembro de 2003 a julho de 2005.

Blog com fotos e as experiências vividas no Gana nos dois anos em que moramos lá.


Source: Marco

Atitudes ambientais em Barbados.

Artigo publicado:
SCHAUMLOEFFEL, Marco Aurelio. Atitudes ambientais em Barbados. Revista Qualitá Socioambiental, Curitiba- PR, p. 58, 01 set. 2006

Atitudes ambientais em Barbados

Marco Aurelio Schaumloeffel*

Em Barbados, nas Índias Ocidentais, uma pequena ilha do Caribe com cerca de 270.000 habitantes e 0,5 km² menor que a ilha de Santa Catarina, a preocupação com o meio-ambiente é intensa. Vários fatores concorrem para que a atitude do governo e da população seja em prol da preservação e melhoria do meio em que vivemos. Alguns deles também são verificáveis no Brasil, outros seriam de fácil implantação, enquanto que outros poucos exigiriam um esforço mais amplo e mudanças de longo prazo para que se efetivassem. Nas próximas linhas estão algumas amostras esparsas disto.

Causa boa impressão passear pelas ruas da capital Bridgetown e de outros distritos. Elas têm um aspecto bastante limpo, mesmo que algumas vezes seja possível ver copos descartáveis e outros tipos de embalagens, mas lixo espalhado na rua não é regra. Perto de lanchonetes que oferecem junk food, há maior incidência de junk people e maior chance de haver lixo depositado em lugares impróprios. O principal fator que faz as pessoas terem consciência de que não é nada agradável nem higiênico conviver com o lixo espalhado pela cidade é o nível de educação: mais de 98% da população é alfabetizada, o que faz, claro que não automaticamente, mas como uma conditio sine qua non, com que a qualidade de vida (nela se inclui a consciência ambiental) e a renda per capita sejam altas. A educação é uma das causas e não a conseqüência de boa qualidade de vida e de bom nível de renda. Pelos dados da ONU, Barbados está em 30° lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o melhor entre os países considerados em desenvolvimento, enquanto que o Brasil está em  36°. Mesmo o município com o melhor IDH no Brasil, São Caetano do Sul (SP), tem um índice menor do que Barbados; já o pior, Manari (PE), equipara-se ao nível dos últimos países da lista. O índice de alfabetização relativamente baixo do Brasil, porém, não exime de culpa quem teve educação e tem consciência de como poderia agir, mas mesmo assim insiste em jogar aquela latinha de cerveja pela janela do carro ou todo dia usa 5 copos descartáveis de plástico para tomar cafezinho no escritório, quando poderia usar sua xícara pessoal, que, claro, é menos prática e tem de ser lavada.

Uma das coisas que funciona muito bem aqui e que desandou no Brasil, embora também funcionasse há pouco mais de uma década, é a devolução de garrafas vazias. Por comodidade, optou-se por quase que exclusivamente fazer e comprar garrafas pet, que causam inúmeros danos ao meio-ambiente, latinhas e embalagens tetra pak. Aqui todas as garrafas, sejam de plástico ou de vidro, sejam grandes ou long neck, são recolhidas e reutilizadas ou recicladas. O sistema é simples, como já era no Brasil antes de optarmos pela comodidade: há um depósito a ser pago, de mais ou menos R$ 0,25 sobre cada garrafa comprada, não interessando onde foi adquirida. Depois de vazias, o consumidor pode entregá-las em postos de coleta. Todo supermercado, por exemplo, recebe garrafas de volta. Ao devolvê-las, o consumidor recebe um ticket referente ao valor das garrafas devolvidas, que pode ser usado para comprar qualquer produto, não sendo necessário adquirir a mesma bebida para poder ter o “direito” de devolver as garrafas. Isso é eficiente, funciona. Por que nós não fazemos? Preguiça e descaso com o meio-ambiente. O Brasil é um dos países com os mais altos índices de reciclagem de latas de alumínio, o que é louvável. Infelizmente não temos este alto índice de reciclagem por conta de nossa consciência ecológica, mas sim pela miséria que faz com que os mais pobres entre os pobres desesperadamente catem latas por todos os cantos.  O ideal seria continuar reciclando, sem a necessidade de se apoiar na miséria, mas por consciência de que assim causaremos menos prejuízos ao planeta. Por falar em embalagens: aqui o leite e os sucos vêm em garrafinhas de plástico ou mesmo em caixinhas de papelão com parede interna revestida de plástico (mas não com alumínio, como acontece nas terríveis embalagens tetra pak, que causam alergia a quem tem hipersensibilidade a este metal), os produtos permanecem refrigerados e têm uma validade de cerca de 15 dias.

A conscientização da população em relação à limpeza também tem um forte apelo: o turismo. Grande parte da entrada de dinheiro no país vem dos turistas americanos e europeus. Todo mundo sabe que quase ninguém viria para cá se as praias estivessem sujas e as águas poluídas. As redes de água e esgotos aqui são bem estruturadas. A água distribuída é potável e em grande parte vem do mar, passando por processo de dessalinização. O esgoto é tratado e devolvido, através de emissários, em pontos no alto-mar, a boa distância da costa. Há cerca de 30 anos não era assim, mas que esta medida fez com que as águas das praias azul-turquesa desta partezinha do Caribe, assim como se vê em filmes, ficassem totalmente limpas. Em Bridgetown há um pequeno braço de mar que adentra a cidade e serve de atracadouro. Ao contrário do que se possa imaginar, as águas lá são transparentes, sendo possível ver peixes quando se está parado em alguma das pontes que a cruzam.

Aqui ocorre um debate interessante na mídia sobre um tipo de poluição geralmente ignorado por nós brasileiros: o país inteiro está discutindo uma nova lei sobre poluição sonora, que o governo implantará em breve. Em termos gerais, há bastante barulho, especificamente nas vias principais de Barbados, mesmo que a ilha seja um lugar bastante tranqüilo e silencioso. As pessoas adoram berrar para chamar a atenção de conhecidos que estão passando, as vans e os ônibus particulares têm sistemas de som infernais instalados, que o dia todo tocam músicas locais, a buzina é um dos acessórios mais usados no carro, algumas igrejas usam sistemas de som externo durante seus cultos.

Nos jornais freqüentemente há artigos que tratam de questões ambientais, mostrando que o assunto faz parte do dia-a-dia e é de interesse e preocupação da população como um todo. Talvez o tamanho do país também faça esta necessidade de preservar saltar aos olhos, pois se as pessoas começassem a destruir, não haveria muito que destruir, ao contrário do imenso Brasil, onde alguns milhares de hectares desmatados são só uma pequena mancha visível nas imagens de satélite, fazendo com que estas questões nos pareçam distantes e pouco importantes.

A companhia telefônica daqui lançou uma linha chamada “The Green Line”, totalmente operada por computador, funciona com mensagens gravadas. Ela é gratuita e dá informações de como os cidadãos podem dar destinação correta a diferentes tipos de materiais, como p. ex., o que fazer com carros e aparelhos domésticos  inutilizados, com lixo tóxico, baterias etc., indicando os locais corretos de entrega, além de dar informações de como fazer um local de decomposição de lixo orgânico em casa, de quais são as leis ambientais e as normas sanitárias do país, de como fazer denúncias e quais as companhias e grupos comunitários que são “environmentally-friendly”. O acesso à informação é fundamental.

Mesmo que ainda demandem melhoras, as atitudes do governo e dos cidadãos de Barbados em relação ao meio-ambiente podem fornecer bons exemplos para que nós também cuidemos do nosso país, abençoado por Deus, bonito por natureza, mas vítima de desleixos praticados por muitos de nós.

 

 
* O autor reside em Barbados, nas Índias Ocidentais, desde 2005. Marco Aurelio Schaumloeffel já viveu  no Gana, África Ocidental (de 2003 a 2005) é mestre em lingüística (UFPR), graduado em português, alemão e literatura e professor (leitor brasileiro) na University of the West Indies, enviado pelo MRE/Itamaraty. Além de livros e artigos nas áreas de lingüística, português, alemão, história e cultura brasileira, o autor também já redigiu artigos com temáticas ambientais para o website da ONG Curupira Ambiental, da qual é membro. Para obter mais informações sobre Barbados visite o site www.schaumloeffel.net e clique em “The Barbados Blog”. E-Mail para contato: marco@schaumloeffel.net

Source: Marco

Naturschutzstiftung O Boticário

Picture

Tradução Português-Alemão/Übersetzung Portugiesisch-Deutsch:

SCHAUMLOEFFEL, Marco Aurelio ; FISCHER, Markus . Fundação O Boticário de Proteção à Natureza – Naturschutzstiftung O Boticário. São José dos Pinhais: Fundação O Boticário, 1998.