The GHANA Blog


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          Incluído dia 10.02.2005         


Por estes dias o Brasil inteiro deve estar festejando carnaval. Aqui em Gana não há nada disso nessa época do ano, não há nenhuma festa que sequer lembre o carnaval do Brasil. Há um tempo fizeram uma festa de rua, no início de janeiro, para eles chamada de carnaval, mas muito diferente da nossa. Sempre vale lembrar que o carnaval não é de origem africana, ao contrário do que muitos pensam, mas sofreu grandes influências da cultura africana já em território tupiniquim.

"A interpretação dos vasos". Essa tela foi legal de fazer, eu e minha amiga Joice, da Tanzania, com quem me reuno uma vez por semana para “fazer arte” resolvemos pintar 3 vasos, cada uma no seu canto. O resultado de cada uma ficou hiper diferente.

 

Através desse blog estamos tendo contatos interessantes. Por causa dele o leitor brasileiro em Delhi, na Índia, e a leitora brasileira na Inglaterra entraram em contato. Assim poderemos trocar algumas idéias e experiências profissionais que, pelo visto, também são muito interessantes, mas bem diferentes. Além disso, descobri que Carlos (o leitor na Índia) é colega de um conhecido meu em Belo Horizonte e conviveu com o Fuhr, um ex-professor meu, e que o marido da Ester (leitora na Inglaterra), que é inglês, já foi professor de matemática por dois anos no norte de Gana nos anos 70. Ele vem para cá no final de março, oportunidade em que nos conheceremos. O mundo é pequeno mesmo...

Sou apaixonada pela arte local, como é impossível ter e comprar tudo, tem algumas coisas que acabo tranferindo para as telas. Como por exemplo essas 4 figuras que resolvi pintar de forma estilizada depois de vê-las como pequenas estatuetas. Chamam-se "Estatueta 1", "Estatueta 2", "Estatueta 3" e "Estatueta 4":

 

"As cores de Ghana". Pintei esse quadro usando as cores da bandeira de Ghana que são: vermelho, amarelo e verde e uma estrelinha em preto bem no centro.

"Vaidade". Acho que um pouco de vaidade sempre cai bem. Domingo é sempre um dia especial, gosto de sair as ruas daqui e ver o pessoal todo arrumado, geralmente com as melhores roupas.

Nos mercados daqui a carne de gado não tem o mesmo corte que no Brasil e muito menos o nome de qual pedaço que se está comprando. Uma boa forma de fugir da carne de gado dura é a carne de avestruz que é bem macia, saborosa e leve.

Como já em um momento anterior, os ganenses também gostam muito de futebol. Tanto que um time de segunda divisão daqui foi batizado de Santos. Os dois principais times daqui têm nomes curiosos. O da capital chama-se “Accra Hearts of Oak”, ou seja, “Acra Corações de Carvalho”, numa referência, provavelmente, à dureza que é bater o time. O lema do time é, por isso mesmo é “never say die” (nunca diga morte). Já o maior time de Kumasi, segunda maior cidade, capital dos Ashanti, chama-se “Asante Kotoko”, ou seja, “Ashanti Porco-Espinho”. O porco-espinho também é o símbolo da nação Ashanti e significa que estes sempre estão prontos a lutar de todos os ângulos e a qualquer tempo, numa referência aos espinhos do animal. O lema do Asante Kotoko é “Kum Apem a, Apem Beba”, que na língua ashanti significa “se você matar mil, outros mil estarão prontos a vir”, mas ou menos no sentido de “somos imbatíveis”. Ainda há outros times, como o King Faisal (Rei Faisal), sobre os quais talvez escreva em outra oportunidade. Abaixo estão os distintivos dos dois principais times:

A novela-sensação do momento aqui, chama-se “Joana La Virgem”.

Há pouco tempo, como descrevi no último blog, ainda encontrei alguns presidentes da África Ocidental. No último sábado um deles teve um ataque cardíaco e morreu. Trata-se do presidente do Togo, o General Gnassingbé Eyadema. A história do Togo envolvendo o General e os acontecimentos que sucederam sua morte são dos mais curiosos. Em 1963 o Togo sofreu um golpe de estado, liderado, entre outros, por Eyadema. A conseqüência desse golpe foi o assassinato a frio de Sylvanus Olympio, o primeiro presidente eleito democraticamente no país, coincidentemente  um descente dos afro-brasileiros retornados à África. A família Olympio, junto com outras retornadas do Brasil como a De Souza, Da Silva e D’Almeida, havia se tornado muito rica e influente na costa do Togo, tendo em suas mãos, na época, também poder político. Com o golpe, um descente de poloneses, Nicholas Grunitzky, aliado de Eyadema, tornou-se presidente. Mas já em 1967, depois de alguns desentendimentos, o próprio Eyadema assimiu o poder, dizendo que “Deus tem uma missão para cada um e nenhum ser humano pode alterar o curso de seu destino”. E lá ficou até sua morte, ou seja, 38 anos, sendo o presidente que estava, até sábado passado, mais tempo no poder na África, só perdendo a “disputa para o Guiness” para Fidel Castro. Há que se dizer que Eyadema foi eleito três vezes, nesse período, pelo voto popular, mas todas as eleições foram denunciadas, por observadores neutros, como sendo amplamente fraudulentas e democraticamente inválidas. Logo depois de sua morte, mais coisas incríveis aconteceram. Segundo a constituição, o presidente do parlamento deveria assumir o cargo por dois meses e, dentro desse período, convocar eleições democráticas. O presidente do parlamento estava voltando de Bruxelas, onde discutia com a UE formas de democratizar o Togo. Antes de ele poder pousar em Lomé, na capital, o exército fechou todas as fronteiras do país, de forma que ele teve de pousar no Benin. A partir disso, o exército declarou o filho de Eyadema, chamado Faure Gnassingbe, o novo presidente do Togo, já que havia, segundo as forças armadas, “um vácuo no poder que deveria ser preenchido imediatamente”. No domingo houve uma reunião urgente do congresso, que era, claro, de ampla maioria de apoio ao ex-ditador, para alterar a constituição, de forma que o filho pudesse assumir “legalmente” o poder. Como sabemos, os congressos, em geral, demoram muito a aprovar uma lei, mas nesse caso mudaram a constituição num domingo, provando que pode haver eficiência, principalmente quando se legisla em causa própria. Agora Faure deverá provavelmente exercer o cargo, segundo informações, até 2008, ou quem sabe, pelos próximos 38 anos... Fala-se em embargo, já que a UE, EUA e União Africana protestaram e condenaram o movimento. Vamos ver o desenrolar do caso. Jornalistas de Gana, por incompetência, medo de comprometimento ou por não saberem o que escrever, pois a situação ainda está pouco clara, evitaram ir direto ao ponto, denunciando o absurdo do desenrolar da situação. Um dos jornais, mesmo aparentemente isento, parecia estar fazendo uma reportagam para a Caras e não uma reportagem sobre algo tão sério. Descreveram o novo presidente da seguinte forma: “Faure Gnassingbe stands at medium height and wears a solemn but penetrating visage. With large, charming eyes, he must be every eligible lady’s aspiring delight. He is very handsome, a young man (ele tem 39 anos) who walks with deliberate measured steps, cautious not to hurt anyone.” Abaixo a foto do principal jornal de Gana na segunda-feira, na direita a foto do falecido e na esquerda do novo presidente:

Segundo o noticiário local aqui não é comum mas ainda ocorre em algumas tribos cortar o clitóris das meninas.

Como já escrevi algumas vezes, o pessoal aqui adora fazer fogo para eliminar o lixo. Este começou com um monte de lixo inocente e terminou por queimar toda a área de capim em volta, sendo que havia vários barracos por perto, alguns feitos de materiais altamente inflamáveis (veja foto da esquerda). As crianças da área ficaram apavoradas e começaram a bater com galhos verdes, depois de mais de meia hora, conseguiram controlar o fogo:

 

Em breve mais.... escrevam !!!

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