The GHANA Blog


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          Incluído dia 13.10.2003         


Perto de onde estamos morando tem um hospital psiquiátrico, eu tenho vontade de ver como é o funcionamento do local. Sempre que passamos em frente os internos ficam nas janelinhas que são de cara para rua, chamando, mas não dá para ver o rosto deles apenas as mãos pois as janelinhas são muito estreitas.

 

No dia da criança (feriado no Brasil, pena que é domingo!) fomos dar um passeio e vimos pela primeira vez a praia, desde que estamos aqui. Parece incrível, mas estamos na beira do mar e ainda não tínhamos ido até lá. A Ro achou estranho só ter negros na praia e eles não usarem roupas de banho como nós conhecemos. Eles entram com roupa normal na água, depois saem e ela vai secando... Em breve faremos fotos da praia, hoje não levamos câmera... isso acontece!

Tudo por aqui deve ser negociado. Uma corrida de taxi começa sempre com ¢ 25.000,00 e termina, depois da negociação com o taxista, entre ¢ 10.000,00 e ¢ 15.000,00, dependendo da distância (Cedi é o nome da moeda aqui. No momento um US$ vale ¢ 8.700,00, ou seja, cada R$ vale mais ou menos ¢ 3.000,00.... já perceberam que somos milionários aqui, ou ? Um milhão não vale muito...). Veja a cara da Ro depois de trocarmos alguns €:

 

Aqui é bem quente e abafado, eu sempre saio com uma água e um lenço para me enxugar, me sinto como um chafariz ambulante de tanto que suo.

 

Ontem (06.10.2003) fomos no segundo mercado “normal” que há por aqui (Koala), o motorista Joffre da embaixada nos levou. Pudemos comprar carne de bovina, já que a gente não arrisca comprar qualquer coisa na rua. Lá também há de tudo, como já vimos no outro mercado, tudo importado. Hoje, por exemplo, comemos lentilha libanesa com arroz tailandês, salada de tomate da Costa do Marfim, temperado com vinagre da Inglaterra e tomamos tônica da Holanda...

 

Comecei oficialmente no dia 06.10.2003 meu trabalho no Ghana Institute of Languages, parte da University of Ghana, mas nessa primeira semana não rola muito. Meu local de trabalho é no terceiro e quarto andares desse prédio aqui:

  

Temos uma amiga ganesa legal: Christine. Ela é chefe do departamento de espanhol, já esteve em Cuba, na Espanha, além da França, pois também é formada em francês. Ela já nos mostrou vários lugares aqui em Accra (compras e  turismo). É muito simpática e sempre disposta; está dentro das regras locais: atraso é visto como regra. Pontualidade só em casos de exceção. Tudo bem, não estamos aqui para mudar o mundo, mas sim para aprender (e aprender o que não deve ser seguido, é claro...!).

 

Agora temos um celular GSM funcionando. É o meio mais rápido (mas não o mais barato) de ter acesso ao mundo. Nosso número: 00 233 24 960521.

 

No Domingo fomos visitar um museu que fica pertinho da universidade e de onde estamos hospedados. Eu obviamente fiquei encantada com tudo. Gosto muito dos símbolos que eles usam nos tecidos e outras coisas, queremos o significado de cada um deles. Fiquei apaixonada pelos trabalhos em madeira, principalmente as máscaras, a arte aqui me fascina. Tinham vários objetos de valor , como, braceletes de ouro e também materias egípcios como uma cabeça mumificada com todos os cabelos e uma mão que dava para para ver até as fibras, tudo isso protegido apenas por um vidro sem sistema de segurança nem temperatura adequada para conservação. Fiquei indignada. Até um sarcófago exposto sem proteção alguma, pudemos até passar os dedos nele, um verdadeiro pecado, mas maravilhoso. Depois fomos almoçar num lugar onde tem vários tipos de sanduíches de frango acho que é tipo um Mac Donald local, eu como não consigo morder nada sem olhar lógico que achei pelezinha no meio da carne, mas isso é meio frescura mesmo, ainda mais depois que vi um rapaz na cantina da faculdade comer até o osso de uma coxa de frango. Na volta para casa aconteceu uma cena bem gostosa, vieram 3 criancinhas correndo de braços abertos e ficaram nos abraçando, uma delas ficou me cheirando, para mim foi algo  energizante, crianças são mesmo seres abençoados.

No domingo passado fomos ao National Museum, que mostra toda a história de Ghana, inclusive a dos escravos levados para a América do Sul. Bem legal, apesar das coisas não estarem muito bem protegidas. Tiramos fotos de alguns quadros e de estátuas, com esta que mostra uma técnica antiga de arrancar dentes com um martelo e uma pedra pontuda (se vocês repararem bem, acharão a Ro nessa foto):

 

Hoje (08.10.2003) tive meu primeiro discurso em inglês no launching do português no Ghana Institute of Languages. Veio imprensa, apareceu inclusive uma reportagem em rede nacional na TV no noticiário da noite. A repercussão foi legal. Vieram o Embaixador Brasileiro, Paulo Wolowski, o vice-ministro ganês da educação, o cônsul honorário de Portugal etc. Um mundo um pouco estranho, mas faz parte do negócio.

 

A feira deles ou shopping ao ar livre parece um verdadeiro formigueiro de tanta gente vendendo, comprando e circulando é uma loucura. E na hora de pagar precisamos ficar espertos com o troco pois eles se fazem de bobos e dão troco a menos. A gente vai andando e eles chamando o tempo todo para comprarmos alguma coisa. Mais uma vez fizemos mudança para outro lugar provisório, essa nossa nova acomodação é pequenininha mas agradável, tem cozinha, quarto e banheiro é tudo bem ajeitadinho. Eu e Marco não temos como nos esconder um do outro aqui dentro. Saimos com o motorista e ajudante do Instituto para resolver algumas coisas,  tipo um chinelo que o Marco comprou, mas tivemos que ir trocar, pois chegando em casa vimos que os dois pertenciam ao mesmo pé. Eles deixam os sapatos  no chão tudo em montes, precisa-se procurar o par.

 

Hoje (09.10.2003) ficamos sabendo que nossa casa definitiva talvez ainda demore “um pouco”. Vamos ver quanto. Já tive de aprender que não adianta ter estresse com tempo. O negócio é relaxar e curtir. Tudo vem a seu tempo...

 

Pintei minha primeira telinha ganesa. É um africano típico tocando tambor. Para ver outras telas que pintei no Brasil, acesse este endereço aqui. A lista de todos os feitos por mim não está completa ainda.

 

Li no Ghanian Times, um dos jornais daqui, de que fui enviado pelo governo português para ser leitor aqui: claro, os repórteres estiveram na launching, ouviram que darei aula de português, portanto só posso ser de Portugal... No mesmo jornal li que o governo ficou feliz, pois reduziu a inflação de agosto de 29,6% para só 27,7% em setembro/03, devido à política econômica austera... Brasileiros, não riam! Não faz muito tempo estávamos na mesma. Faz pouco tempo que conhecemos a estabilidade (+/-) financeira. Não sei por quanto tempo, tomara que dure. Os primeiros € que eu troquei aqui valiam ¢ 9.700,00, hoje um € já está valendo ¢ 10.000,00.

 

Comemos keleuele um tipo de plantain (babana que não pode ser comida crua) frito em pequenos pedaços. Ela é salgada e apimentada. O açúcar natural da banana quebra um pouco o hot da coisa. A Ro gostou, eu nem tanto. Um pacotinho recém-feito, muito quente, vem enrolado em folha de jornal.

 

Algumas perguntas feitas por mail que estamos respondendo. Em breve outras respostas:

 

Clarissa: Achei super legal as fotos da Africa.... ta curtindo mesmo???? Não sei se conseguiria morar ai... a pobreza eh pior que aqui???? o colégio suiço ai tem a mesma qualidade???? Ja compraram o cachorinho???? hehehehehe vê se tira umas férias e vem para  a nossa  formatura dia 5 de dezembro...fala sério vai ser o maior furo seu nos abandonar até na formatura!!!!!!!!!!!

Oi Clarissa! Claro que estou curtindo essa nova fase da vida, é bom mudar de vez em quando, mas tudo deve ser feito de forma consciente, sem muita impulsividade (acho que isso eu já expliquei prá vocês...). É evidente que isso aqui não é o paraíso, nem o lugar onde pretendo passar o resto de minha vida, mas é legal como experiência e aprendizado, recomendaria a todos que têm a chance de fazer algo assim. A pobreza aqui é grande, mas é bem diferente do Brasil. Não é uma pobreza que “grita” aos olhos. É uma pobreza mais média, de forma que a maioria vive mal, mas não vive na miséria total, como vemos pessoas nas favelas do Brasil. Ainda não vi pessoas que estejam passando fome ou em condições deploráveis. Pessoas pobres vejo sempre por todos os lados. Isso perturba, pois sei que posso fazer pouco para mudar a realidade de tanta gente. Quem sabe eu possa mudar a vida de alguns ao dar instrução em uma nova língua estrangeira (português). Esses estudantes terão melhores oportunidades no mercado de trabalho, já que o português é requisitado aqui em Ghana por ser língua oficial da Comunidade Africana e no comércio exterior com o Brasil. O Colégio Suíço daqui é pequeno e pouco integrado com a comunidade de Accra. É uma ilha de estrangeiros. O pessoal lá é legal e parece ter qualidade. Daqui há um tempo saberei responder melhor a essa pergunta... A Rosiane decidiu que não teremos cachorrinho; como ficaremos só dois anos, ela acha que seria muito ruim se apegar a um bichinho para depois deixar aqui. Ela sabe disso, pois deixou dois no Brasil agora. Mas... não ter cachorrinho não significa que aquela sua suposição se torne real... Na formatura infelizmente não virei, só sairei daqui em março para ir à Dinamarca ou à Áustria a trabalho. Em agosto e setembro provavelmente estaremos no Brasil. Eu também vou sentir não poder estar na formatura, seria muito legal e importante para mim ver a turma de vocês estar se formando, mas a vida nos prega essas coisas... Mas pode ter certeza (e não é brincadeira!), guardo vocês no meu coração e quero tudo de bom para vocês, eu sei que vocês terão sucesso no futuro... Gostei da foto em que você aparece de faixinha...

 

Hjalmar: Ei, eu sei que vc ja deve ter explicado isso milhares de vezes, mas como vc foi parar ai?!!??! Tipo, vc recebeu uma carta do governo e resolveu se mandar?!! hehehe...

É Hjalmar, já expliquei isso muitas vezes, mas explico de novo, já que para você – e muitos outros conhecidos – isso pareceu tão repentino. Não foi tão simples como receber uma carta e aceitar o convite. No início do ano eu me candidatei a uma vaga como leitor brasileiro. O governo brasileiro tinha interesse em implantar português aqui em Ghana por diversos motivos: divulgar a língua, a literatura e a cultura brasileiras, além de intensificar o comércio exterior entre os dois países. Esse sistema de leitorado brasileiro já existe em muitos países da América Latina, da Europa e da África. A Alemanha tem um programa parecido chamado DAAD, que manda Lektoren para todos os cantos do mundo. Fiz inscrição na CAPES/CNPq. Lá foram selecionados (se eu não me engano) seis candidatos; estes nomes foram enviados para o Ministério das Relações Exteriores/Itamaraty, que ficou encarregado de fazer a seleção final. Acabei sendo o escolhido e aceitei. Aqui recebo meu salário diretamente da Embaixada Brasileira (em US$, para garantir o valor de compra), onde também trabalho; residência, assistência médica e transporte casa-trabalho são cobertos pelo Ghana Institute of Languages, que é parte da Ghana University.

 

Alaor: Me responda uma coisa....existe algum tipo de preconceito contra os brancos ai...ja que sao minoria?

Gostei da tua pergunta Alaor! O tema é delicado, já que os negros geralmente são tão discriminados no mundo ocidental, mas vou procurar responder com sinceridade. Há preconceito contra brancos, sim e muito, fato que me parece normal contra minorias em todo o mundo. Quando não é assim, deve ser tratado como exceção... Um dos pressupostos básicos que os ganeses têm é de que todos os brancos necessariamente são milionários, enquanto que eles parecem não perceber que há alguns negros aqui que são muito ricos, provavelmente por estarem explorando outros negros... Geralmente há dois preços para as coisas: um para negros e um para brancos. Não preciso nem dizer qual deles é o dobro, ou? Ontem (10.10.2003) mesmo fui com um novo amigo ganês (Martin, PR do instituto) a um bar aqui perto de casa para pegar umas cervejas para o final de semana (necessário, né!?! Faz parte da cesta básica... ;-)) . A vendedora na maior cara de pau perguntou se elas eram para mim ou para ele antes de dizer o preço. Como ela viu que eu ia pagar... Muitas pessoas aqui falam oburoni para nos chamar (significa “homem branco”) ou dizem “hello white man”, sem maldade alguma, mas implícito está outra coisa, é como se no Brasil alguém fosse dizer “oi negro, tudo bem?” ou “venha aqui negro, tenho algo para vender”, acho que não teria boa repercussão, ou?

 

Denise: - como é o tempo? Como as pessoas se vestem? A população é mais jovem? Muitas crianças? Vcs chamam atenção? Dá para sair beleza na rua, sem receios, a Rô pode sair sozinha? Tem muito assalto? Como é o nome do dinheiro? Equivale ao que em dólar?

Denise! Respondendo as suas perguntas, acho que o número de jovens é o maior, talvez por circularem mais pelas ruas, tem bastante crianças  também, mas geralmente junto com as mães, os bem pequenos ficam amarrados com um pedaço de pano bem firme nas costas da mãe, eu acho eles superfofinhos.  As vestimentas das pessoas são bem variadas tem vários modelitos, desde apenas pedaços de pano enrolados no corpo, vestidos, conjuntos, camisas e calças com os tecidos deles, eles gostam muito de se vestir com roupas mais sociais. Aqui é dificílimo encontrar uma mulher de barriguinha de fora ou saia acima do joelho e olha que elas teriam corpo para tal. Fora que vivem tentando nos passar para trás no troco das coisas, acho que assaltos à mão armada quase não tem, mas claro que estamos sempre antenados com nossas coisas. Você perguntou também se chamamos atenção, é meio inevitável, mas não tenho medo de sair na rua sozinha por causa das pessoas, antes por medo de me perder, pois as ruas são meio confusas sem placas e muitas vezes sem o nome das ruas, o jeito é sempre ter em mente algum ponto de referência.  Um beijo da sua mana preferida.

 

O Marco participou de uma reunião entre os chefes de departamento e o diretor do instituto. Tirei esta foto, vocês conseguem achá-lo?

 

Em breve mais.... escrevam !!!

 

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