O Fabuloso Destino de Amélie Poulain
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulain) impõe audácia e desenvoltura, fazendo surgir um filme bem realizado. A arte brota de fatos absurdamente comuns e de absurdidades comunais. Amélie é o elo entre as várias personagens cotidianas, todas normais, porém loucas a sua maneira. Há beleza única no direcionamento de câmera; o show de imagens não está relacionado ao ambiente no qual o filme é rodado: Paris; ela reside, assim como todo o conceito de Amélie Poulain, em movimentos comuns como o subir em escadas, ver uma pedra saltar sobre a água, ter a perspectiva de quem observa o mundo da janela. O comum vira universal, tudo conduzido de forma bem humorada, vendo graça em tudo sem precisar cair em desgraça.
Com algumas troças Amélie modifica a realidade em sua volta, redundando na alteração do próprio cotidiano. Elementos humanos muitas vezes subestimados como a simplicidade de observar as ações de um vizinho ou do vendedor de frutas da esquina, a voracidade e a criatividade despertadas por uma paixão, a cumplicidade que não necessita de muitas palavras, afloram sem a necessidade de chamá-los à tela, de trabalhá-los como se fossem sexo explícito.
Ao espectador resta o consolo do privilégio de tê-lo sido e a impressão de que é e está diante de seres dotados da faculdade de uma das mais refinadas expressões de inteligência: a ironia séria. A película fica a milhas da ironia hollywoodiana, na qual, ao invés de sugerir a introspecção e o riso baseado na condição humana, o objeto filme é o alvo.
Em outras palavras, a diferença reside no propósito. O destino de Amélie certamente foi feito e não fabricado. Fabril: em relação à fábrica, à produção em larga escala. Atingir um grande número de espectadores é objetivo de qualquer filme. Neste jamais os fins justificarão os meios.
Marco Aurelio Schaumloeffel
Source: Marco
Leave a Reply