The GHANA Blog


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          Incluído dia 15.05.2004         


Dieter: Perguntinha: Como é o 1º de maio aí? Existem movimentos sindicais? Existe CLT ou alguma regulamentação para o trabalhador. Fazem greves?

Talvez dê para entender um pouco sobre o valor e a valorização dada ao trabalhor e ao trabalho se pegarmos como exemplo o que aconteceu aqui este ano. Como o 1° de maio caiu em um sábado, o presidente resolveu, por decreto, determinar uns 5 dias antes, que teríamos feriado na segunda, dia 3, já que o sábado já era um dia “natural” de folga. Se existem movimentos sindicais, ainda não descobri ou ouvi falar de algum deles. Existem algumas cooperativas de trabalhadores (p.ex. produtores de cacau ou associação de artesãos) que atuam um pouco como se fossem sindicatos. Também ainda não sei se existe uma CLT clara e avançada, suponho que sim, mas na prática não consigo observar nada disso. Quase todos são empregados informais, não há direitos trabalhistas, principalmente os trabalhadores domésticos. Eles ficam muito tempo no trabalho, geralmente 12 horas por dia, 7 dias por semana, o que não significa que trabalhem este tempo todo, pois ficando tanto tempo no “posto”, também tem de usá-lo para resolver questões pessoais, para alimentar-se etc. Quase sempre eles dormem sentados nos cantos na sombra, já que o calor é grande. É muito normal que casas, mesmo as de classe média baixa, tenham dois empregados para alguns trabalhos gerais, fora de casa, chamados aqui de « seguranças », um de dia, outro à noite. Às vezes eles ajudam um pouquinho, na maioria do tempo conversam com amigos em frente ao portão da casa ou dormem. Para mim é um pouco deprimente, pois penso que perspectiva de vida eles têm, parece que existem para esperar o tempo passar. Geralmente recebem um salário mensal de, mais ou menos, R$ 100,00, o que mal dá para alimentar uma família, mas é o padrão nacional. Aqui não há violência, mas todos recomendam que todas as pessoas de classes média-baixa até « alta-alta » tenham pelo menos dois empregados desse tipo, ainda mais se o morador for estrangeiro. A sociedade vê isso como se fosse uma obrigação social. Dizem que se não ajudar pelo menos duas famílias mês-a-mês, mais cedo ou mais tarde, a gente se torna alvo, acabam entrando nas casas para tirar uma fatia grande de uma só vez. Como agora estamos morando numa casa, herdamos dois desses empregados, que já estavam aqui antes da gente. Não queríamos “depender” de ninguém, mas contexto não permite outra opção. Pensando bem, até é melhor assim, assim a casa estará « guardada » nos períodos em que formos viajar.

O nome dessa tela é “reunião”.  Cada cadeira ou banquinho tem seu significado, por exemplo a que a mulher está sentada só pode ser usada pela gran mother e a que o homem está sentado só pode ser usado pelo chefe. As roupas enrroladas no corpo do rei e do chefe são de um tecido especial chamado “Kente” considerado nobre. Esse tecido é todo costurado à mão, o preço dele também é bem caro. A pele de tigre atrás do rei, é sinal de força e poder.

A visão das coisas aqui é muito diferente, ainda em relação aos « seguranças » : eles não seriam nenhuma barreira para qualquer ladrão amador, mas casa com eles não é « esvaziada » . Não pela barreira que o « guarda » impõe, mas sim pelo respeito à pessoa que foi mais sortuda e conseguiu ali seu lugar de trabalho. Caso o dono não dê trabalho a ninguém, gera a raiva e o direito de ser alvo.

Essa semana o povo Ashanti teve grande festa em Kumasi. Em uma cerimônia chamada Adae Kese, realizada no estádio de futebol da cidade, comemoraram o quinto ano de entronamento do atual rei, Otumfuo Osei Tutu II. Nessa ocasião ocorreu uma coisa rara: a famosa cadeira de ouro foi mostrada ao público. Na foto abaixo, tirada por repórteres do jornal Daily Graphic, o presidente John A. Kufuor (direita) cumprimenta o rei. Observe a roupa Kente dos dois e a prova do que expliquei num dos blogs anteriores: o ajudante que segura o braço do rei por causa do excesso de peso dos braceletes de ouro.

Acreditem vocês que no dia 7 maio comecei a fazer uma coisa que jamais pensara em fazer: comecei uma coluna semanal – em inglês !!!! – no Daily Graphic, o jornal de maior circulação em Gana. Terei toral liberdade para escolher meus temas e expressar-me. No início vou escrever principalmente sobre os links entre o Brasil e a África. Posso parar quando quiser, sem nenhum compromisso, por puro prazer. Achei ótimo. Até agora foram publicados dois artigos: “The influence of the Portuguese Language in Ghana” e “African influence in Brazil”. Semana que vem é a vez de escrever sobre a influência africana na música brasileira. Para ler os artigos completos, basta clicar sobre os título acima. Abaixo a “prova” da publicação:

Estou fazendo muitas coisas ao mesmo tempo aqui. Comprei o domínio e lançamos, na semana passada, o site da nossa embaixada aqui em Gana. Há informações interessantes lá. Quem tiver interesse, basta acessar http://www.brasilghana.org

A corrupção aqui parece normal. Percebi isso agora que finalmente temos um lugar definitivo para morar. Mesmo que não se esteja envolvido, dá para percebê-la de forma escancarada. Pessoas pedem e levam facilmente porcentagens sobre valores que não lhes cabem...

Até que enfim estamos na nossa residência definitiva. É incrível a quantidade de coisas que acumulamos em 7 meses. Passamos uma semana ajeitando tudo. Agora só falta uma rede para ficar lagarteando, pois durante o dia é mais agradável ficar do lado de fora, onde temos bastante flores e também uma árvore de papaya, uma de manga, uma de fruta do conde, dois coqueiros e ainda plantamos duas bananeiras. No domingo dia das mães, fizemos um almoço gostoso e convidamos o primeiro casal de amigos que fizemos assim que chegamos em Ghana.

Eis algumas fotos do nosso tão esperado doce lar, que só conseguimos porque nós fizemos a tarefa que foi delegada a outras pessoas, que não cumpriram seu papel, mas $ouberam como fechar o contrato. O aluguel, como já expliquei anteriormente, é um absurdo, ainda mais quando inclui comissões. Ainda bem que não precisamos nos envolver diretamente na coisa, pois o contrato previa que quem paga moradia é o Ghana Institute of Languages/University of Ghana, ou seja, uma instituição pública. A casa tem dois quartos, sala, banheiro, cozinha e um pequeno jardim.

pátio

jardim

sala

quarto

Agora começou a época das chuvas, que vai até final de agosto. Chove todo dia, ao contrário de outubro a março, quando choveu, ao todo, no máximo, umas cinco vezes.

Eu nunca tinha ficado tanto tempo sem assistir televisão e percebi que esse objeto não me faz falta. Claro que gosto muito de bons filmes mas aqui dos 4 canais que temos 3 ficam quase que o dia todo passando clip com músicas locais. É uma comédia, pois são tudo produções caseiras e o teatro que rola é de se rolar de rir. As propagandas então...sem comentários...hehe

Adinkra XVII

Para entender o que esta série está explicando, veja seu início no dia 01.12.2003.

EDE NKA ANUM GWA: A doçura não fica para sempre na boca. Proverbial para dizer que há tempos bons e ruins. É o banco do Dadesuabahene (hene = rei)

ADINKRA GWA: O banco do chefe de Gyaman. Adinkra tem grande significado na mitologia Ashanti.

OWUO ATWERE GWA: Proverbial para o líder da morte. Nós devemos “subir” a escada da morte. É também o banco do chefe de wasaw.

ATUMPAN GWA: O banco dos tambores rufantes. É esculpido com os tambores deitados do lado. É parecido com o tambor donno e é o banco do Bechemhene.

NKONTA GWA: ‘Nkonta’ é a forquilha em formato de Y usada para as catapultas.

Nota: todos estes bancos descritos aqui e nos blogs anteriores são esculpidos em uma única peça de madeira, sem uso de emendas, colagens ou pregos.

Em breve mais.... escrevam !!!

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