The GHANA Blog


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          Incluído dia 30.03.2004         


Uma vez por semana eu, um brasileiro chamado Reginaldo e uma moça da Tansânia, chamada Joice, estamos fazendo uma tarde de “arte”. Eu e Joice pintamos e Reginaldo costura. Digamos que é mais um encontro social, mas está sendo bom para mim, pois as vezes me sinto bastante sozinha. Na quinta-feira fui com eles para um lugar chamado “Kofuridua”. O que tem de interessante nesse lugar é uma bonita mesquita e o comércio de pedras coloridas de vidro. Para quem gosta de montar bijouterias tem pedras muito bonitas para tal. Algumas são bem antigas e também bem mais caras, pois a técnica usada era bem diferente. Os vendedores não são tão grudentos como nas ruas daqui. Eles adoram trocar uma idéia. Uma das mulheres nos falou com a maior certeza do mundo que o Bin Laden é “canibal”, os que estavam por perto concordaram. Nós três caimos na risada... Na foto abaixo, uma cena do mercado de Kofuridua:

Essa é para  Milton Guran e Klaus Eggensperger: consegui e comecei a ler “Fluxo e refluxo” de Pierre Verger, “A enxada e a lança” de Alberto da Costa e Silva, entre outro de suma importância para entender um pouco mais sobre estas terras que parece ter ao mesmo tempo tudo e nada a ver com o Brasil.

Graças aos contato que mantenho com ganenses, estou aprendendo coisas interessantes. Eu estava discutindo com um jovem (de minha idade ;-)) ) de nome Steven Ackumey-Affizie, muito esclarecido e ligado em sua realidade, sobre formas antigas de escravidão, que existiam na África antes da chegada dos europeus. Esclareceu-me ele que ainda hoje há várias dessas formas em Gana, principalmente nas tribos de lugarejos do interior. Uma delas consiste em capturar o maior número de pessoas possíveis, de tribos distantes e inimigas, para que estas sirvam ao chefe. A coisa que estes escravos modernos menos querem é a morte do chefe. O motivo é simples: quando o chefe da tribo morre, ele vai para outro mundo. Como ele é pessoa da maior importância, jamais poderá ir sozinho, pois também precisa de servos neste outro lugar. Os integrantes da tribo decidem, sem dúvida alguma, sacrificar vários dos escravos – senão todos –, para que “acompanhem” o chefe no outro mundo. Estamos em 2004.

Essa é a foto da campanha de vacinação contra a pólio, colada em vários lugares. Tem até camiseta com essa estampa. Bem diferente do “Zé Gotinha”... Vale a pena perceber, como o fantástico ou o "cruel-real" (como nesse caso) surtem efeito nas propagandas daqui...

De um padre marista espanhol, que dá aulas de espanhol no Ghana Institute of Languages (GIL), já morou no Brasil e fala bem português, recebi emprestados, com surpresa, três CDs com música do RS. Um com canções típicas (tipo “Céu, sol, sul”), outro do Gaúcho da Fronteira (ruinzinho) e outro, uma grande surpresa, que não conhecia, apesar de minha coleção, um CD de Borghettinho, muito bom, chamado “Paixão no peito”, tocando inclusive coisas de Hermeto Pascoal. Bem elaborado, ótimo. Quem diria, em Gana receber emprestados CDs gaúchos!

No sábado teve uma deliciosa feijoada brasileira na casa do embaixador. Eu adoro “nosso” feijãozinho preto”, mais agora do que quando estava no Brasil. Tem coisas que só percebemos quando não fazem mais parte do dia a dia... 

Estamos há exatos 6 meses aqui. Incrível o que já passamos, mal dá para digerir tudo, acho que precisarei ainda um bom tempo de cotidiano e “vida normal”, depois da volta ao Brasil, para entender bem muito do que vai acontecendo e do que vamos vivendo todos os dias aqui, tanto as coisas boas, quanto as ruins ou cansativas. Todas são interessantes, todas mostram outro mundo, acho que a globalização ainda não é um fenômeno tão globalizado assim. Ela se restringe, a meu ver, ao ocidente.

Na semana passada iniciou-se o processo de eleição dos representantes estudantis do Workers College, uma parte da universidade, que fica no mesmo prédio do GIL. Um dos candicados a presidente, apresenta-se, sem cerimônias, com o codinome “Osama”. Veja a propaganda do figura (está de óculos escuros). Também vale a pena observar seus objetivos e seu vice, de gravata, segurando uma BIC, dando um duro desgraçado (deve estar formulando as linhas de ação de sua administração):

Adinkra XIII

Para entender o que esta série está explicando, veja seu início no dia 01.12.2003.

OSEBO GWA: O banco do leopardo. Ele é somente usado pelos Asantehene. Significa sua força e influência.

ESONO GWA: O banco do elefante, também usado exclusivamente pelos Asantehene. Quem o usa desafia seus superiores.

OWO FOFORO ADOBE GWA: Banco proverbial. A cobra subindo a palmeira. The Snake climbing the palm-tree. Tentando o impossível.

KOTOKO GWA: O banco do porco-espinho. É o emblema do estado da tribo Asante (também chamada de Ashanti), usado exclusivamente pelo Asantehene.

SRANE GWA: O banco da lua. Também é proverbia e aparece no simbolismo adinkra. Este banco pode ser usado por ambos os sexos.

 

Em breve mais.... escrevam !!!

 

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