The GHANA Blog


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          Incluído dia 18.03.2004         


O nome dessa tela é "Mãe". Nela retratei a forma como as mulheres carregam as crianças enrroladas num pedaço de pano preso ao próprio corpo. É uma cena bem comum, ver mulheres com suas crianças amarradas e com cestas na cabeça. Acho elas lindas. Ao fundo um coqueiro e cactus.

Comecei a fazer coleção de cactus, pois tem bastante aqui, por enquanto tenho plantado em potes 4 tipos diferentes.

Acabo de voltar de viagem. Estive em Mannheim para pegar meus casacos de inverno (estava nevando e a temperatura na maior parte do tempo abaixo de zero), em Bremen para visitar um grande amigo  meu e depois fui para a Áustria para a reunião de trabalho do IDV. Viena, como sempre quando a visitei, estava sombria, quieta e fria. Fui ao Burgtheater assistir a Hamlet, estava legal. Uma experiência interessante foi voltar a Gana, tudo diferente, não só a temperatura. Eis uma foto tirada pela amiga Katja, numa noite de neve em Viena (parece Gana, não!?!):

No sábado participamos de uma festa de despedida do embaixador inglês na residência do embaixador do Brasil, foi bem animada, todos estavam vestidos em cores “ouro”, pois o tema foi “The Golden Years”.

Fui com uma colega numa feira que acontece todos os anos em Ghana, onde tem exposição de vários produtos e artesanatos de alguns países da África. O que mais gostei foram das coisas do Mali e Burkina Faso. Eles têm artesanatos diferentes e também um tipo de tecido bem pesado que é desenhado manualmente ou carimbado com símbolos típicos. O que mais me chamou atenção foi uma bolsa de couro que tinha na parte da frente uma cabeça e patas de jacaré empalhado e costurado na bolsa. Cada coisa doida... 

Há algum tempo começaram uma nova construção atrás do Ghana Institute of Languages. Assim que terminaram de cavar as valas para fazer o fundamento, resolveram fazer uma grande festa de “inauguração”, não sei exatamente o que estavam inaugurando, mas eis a foto do início da construção, ao fundo todas as barracas montadas para a festa (também é possível ver três edifícios, coisa rara em Gana, não tem mais de vinte em toda a capital!). Devem ter gasto mais na festa do que no início das obras. A segunda foto mostra o descaso com esculturas, como essa, que ficou – e provavelmente ficará – no meio do fundamento da obra inaugurada...

Na semana que Marco esteve fora, passei 5 dias sem luz. Um calor terrível, me senti no inferno pagando meus pecados. As comidas da geladeira tive que jogar tudo fora, mas como eles mesmo dizem: Madam, this is Africa... Marco chegou na quarta feira e depois disso ficamos mais uma vez sem luz de sexta a domingo. O problema estava em um cabo de luz. Os safadinhos fazem o serviço tão mal feito que nem fecham os buracos, pois sabem que pode dar "caca" novamente a qualquer momento.

Não sei quanto tempo este país ainda levará para se desenvolver, há problemas sérios de infraestrutura, tanto que no mês de março, um dos mais secos, é comum haver cortes de luz e água. O governo não consegue suprir a necessidade da população. No Brasil, o consumo alto de energia se deve à indústria relativamente bem desenvolvida e aos chuveiros elétricos. Aqui não há nada disso, mesmo assim há problemas de suprimento. Num dos próximos blogs explicarei como é o saneamento básico...

Dani: Fiquei muito impressionada sobre parte de um filme que passaram durante a reportagem, de como foi a escravidão, foi muito cruel, e eles devem sofrer muito com isso ainda, ou não se fala muito nisso mais?

Oi Dani! A escravidão ainda tem seus reflexos no dia-a-dia dos ganenses. Aqui aprendi muitas coisas sobre esse período triste da história. Ao contrário do que muitas vezes se aprende com alguns professores menos esclarecidos nas aulas de história no Brasil, o sistema de escravidão não foi introduzido pelos colonizadores europeus na África. Ela já era característica comum nas tribos ganesas mesmo antes da chegada dos portugueses à Costa do Ouro e seu definitivo “assentamento” em 1482, portanto antes da descoberta das Américas, com a construção do Castelo de São Jorge em Elmina, a mais antiga construção européia na África sub-saariana. Primeiramente os portugueses não capturaram ou compraram escravos, mas sim levaram ouro Ashanti e marfim para a Europa. Nas diferentes tribos, lançava-se mão da escravidão para a realização de trabalhos domésticos. Quem praticava crimes ou deslizes sociais, segundo a moral estabelecida pelos chefes ou reis das tribos, era castigado com a escravidão. Os escravos eventualmente podiam ser aceitos e tratados como membros da família, dependendo de sua conduta e laboriosidade. Era uma espécie de escravidão velada, pois os escravos podiam usufruir parcialmente das riquezas produzidas na família. Com a chegada dos colonizadores, a escravidão tornou-se formal, sendo possível acumular muitas riquezas por parte dos chefes africanos. Os escravos eram comprados pelos europeus. Além dos criminosos e dos inimigos capturados nas guerras entre as tribos, pais vendiam seus filhos, lhes prometendo fartura em outros terras. A escravidão, assim, tomou contornos diferentes, sendo levada a cabo e exposta, de forma nua, a exploração de humanos, usados como meros objetos de produção, sem qualquer compartilhamento de riquezas. Até hoje há atritos entre pessoas de algumas tribos, umas acusando as outras de que seus antepassados foram explorados. É difícil responder a uma pergunta tão complexa...

Adinkra XII

Para entender o que esta série está explicando, veja seu início no dia 01.12.2003.

Nhwimu (cruzamentos). As divisões feitas nas roupas lisas antes de elas serem estampadas.

MMAA GWA: A cadeira/o banco da mulher.
Na ocasião do casamento, o marido normalmente dá de presente para a mulher uma cadeira (em tempo recentes também quando esta dá à luz um filho seu).

MMARIMA GWA: A cadeira/o banco do homem. No lar somente o “chefe” da família pode usá-la.

PANTU GWA: O banco da grande garrafa de bebida alcólica (normalmente gin). Mostra a influência européia na cultura.

OBI-TE-OBI-SO GWA: “Alguém está sentado no banco de outra pessoa”. Uma cadeira “proverbial”, usada exclusivamente por altos chefes em cerimônias de estado.

 

Em breve mais.... escrevam !!!

 

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