The GHANA Blog


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          Incluído dia 06.01.2004         


No natal fomos a uma festa ganesa oferecida pelo diretor do instituto. Foi legal, tinha comida ganesa “boa”, a que mais gostei foi de uma mistura de farinha de milho, uma “semi polenta”, acompanhada de um refogado de quiabo com peixe. A princípio o pessoal é bem tímido, mas aos poucos vão se soltando. Dançamos bastante.

Os ganeses têm uma mania de causar desespero: juntam e queimam todas as folhas de árvores, poluindo o ar ao invés de produzirem húmus. Em contrapartida deixam todos os plásticos atirados nas ruas...

Do dia 26 a 30 passamos na praia de Busua. O que vemos bastante por lá são muitos europeus e por sinal a maioria mulheres, procurando “acompanhantes”. A maioria dos negros que ficam circulando lá, vem especialmente para caçar os brancos “abonados”. Cenas simplesmente ridículas de ambas as partes. Também fomos visitar os dois castelos que tem no caminho, a sacanagem é que para conhecer todos os ambientes do castelo, tem que pagar uma taxa, mas a tabela de valores para estrangeiros é exorbitante enquanto para ganeses é uma mixaria. Isso é discriminação, muito chato esse tipo de coisa.

Entre Natal e Ano Novo visitamos mais dois fortes/castelos. Dessa vez estivemos em Elmina, cidade de 20.000 habitantes perto de Cape Coast, cujo nome vem do português « A mina », em referência ao ouro da região. Visitamos o castelo São Jorge (St. George’s Castle) e o Forte São Jacó (Fort St. Jago), ambos declarados pela UNESCO patrimônios da humanidade. São Jorge, que foi construído pelos portugueses em 1482, antes mesmo do descobrimento  das Américas, é a mais antiga construção européia na África subsaariana. São Jacó foi construído entre 1652 e 1662. Os holandeses dominaram estes dois lugares e os usaram mais tarde para o comércio de escravos. Em 1872 foram cedidos aos colonizadores ingleses.

St. George's Castle.

Fort St. Jago, no alto do morro.

Aos poucos vou vivenciando coisas diferentes por aqui. Uma dela é a mentalidade para mim muito estranha da maioria dos ganeses. Eles gostam muito de ganhar dinheiro, de preferência sem precisar fazer nada. Uma das maiores chances deles é quando vêem um branco, pois acham que todos são ricos. Muitos pedem dinheiro, na maior cara-de-pau, mesmo que estejam bem vestidos e que seja visível pela postura de que não são miseráveis. A gente começa a criar “conceitos” perigosos na cabeça. Muitos querem ajudar, mas sem a boa intenção de simplesmente ajudar, mas com a segunda intenção de ganhar dinheiro. Nesse sentido, eles não são nem um pouco inocentes. Muitas coisas aqui só começam a funcionar quando rola dinheiro. Na pousada onde estamos, normalmente fazem limpeza semanal das nossas dependências, mas só fazem quando a gente pede, apesar do instituto estar pagando – e muito – pela hospedagem. Depois da primeira semana de hospedagem, resolvi perguntar quando limpariam nosso apartamento. A resposta: “você ainda não pediu para a gente fazer isso”, ou seja, um serviço que deveria ser automático, aqui tem de ser implorado. Às vezes não limpam pela desculpa de que a água está pouco, pois precisam economizar. Por outro lado, no mesmo dia o mesmo funcionário responsável pela arrumação dos quartos me pergunta se não quero que ele lave meu carro. Moral da história: se ele lavar o carro receberá ¢ 30.000,00, se limpar o apartamento só terá feito seu trabalho. É claro que nós mesmos poderíamos limpar, mas para isso teriam de nos dar acesso aos materiais de limpeza... Os repórteres da Rede Record que estiveram aqui  e já viajaram por muitos países do mundo, também comentaram que em nenhum outro lugar isso fica tão claro quanto em Ghana. Que aqui todas as pessoas que dão entrevistas também querem receber dinheiro e não fazê-lo pelo simples prazer. Não deixa de ser uma forma de prostituição...

No ano novo fomos convidados pelo dono das lojas de tinta Coral daqui. Eles fecharam o salão de festa de um hotel. O lugar ficou muito legal, todo decorado com bexigas brancas e velas, inclusive a piscina. No convite também dizia que os convidados eram para vir vestidos de branco, influência puramente brasileira...  Quase 90% dos convidados da festa eram libaneses, o pessoal estava bem  animado, é um barato ver eles dançando música árabe. 

Na semana que passou recebi um e-mail de um brasileiro que achou nosso blog na internet. Ele pedia desesperadamente por informações sobre a existência de um banco chamado « Global Bank Ghana », citando o endereço e o telefone. Chequei os dados e como resultado obtive o seguinte: o banco não existe, a rua existe, mas o endereço é falso, o número de telefone fornecido é de celular desativado. Conversando com pessoas da embaixada descobri histórias interessantes sobre como brasileiros e cidadãos de outros países caem em contos de fadas aqui em Ghana. Eles recebem e-mails (o referido cidadão mais tarde me mandou e-mails recebidos, confirmando a história) com referências de parentes distantes que vieram para a África (que realmente existiram) e que teriam deixado fortunas depositadas em bancos daqui. Geralmente algo entre 20 e 30 milhões de dólares. Como estes parentes teriam morrido tragicamente em acidentes de carro, um suposto funcionário de banco entra em contato solicitando a retirada dos valores da herança. Como conseqüência, algumas pessoas acabam se iludindo com os valores e compram passagem para vir para cá viver um conto de fadas. Chegando aqui, o tal do banco mostra sacolas com os milhões de dólares (que realmente existem para causar impacto), explica que o dinheiro está retido e que deve ser pago determinado valor pela guarda do dinheiro (geralmente algum milhares de dólares) para liberar a herança... Por incrível que pareça, algumas pessoas pagam! Outras acabam em uma espécie de prisão domiciliar até pagarem os valores solicitados. Mais de cinco brasileiros já vieram atrás de fortunas e todos acabaram se dando mal, entre eles – pasmem -  um juiz, um agrônomo e um geólogo. Um goiano sumiu, sem que se tenha notícias de seu paradeiro. Aqui conheço um português que nessa brincadeira acabou perdendo tudo o que tinha, algo em torno de US$ 490.000,00.  Por trás desse golpe que ilude a alguns que querem ficar ricos do nada, provavelmente está uma trupe de falsários que inclui ganeses, nigerianos e togoleses. A polícia nada faz (para não dizer mais do que isso)...

As mulheres ganesas acham muito bonito usar as unhas compridas e pintadas com esmaltes coloridos nas pontas,. Eu acho estranho que elas deixem as unhas dos pés também bem compridas, ficam parecendo garras saindo pelas sandálias, acho que não vou aderir a essa moda... 

Sair com a camisa do Oludum aqui não dá a menor graça. Ninguém percebe alguma diferença. A combinação de cores parece normal. Em Curitiba isso quase beira um escândalo. Posso falar com conhecimento de causa. Eis uma coisa que pode ser excitante na capital paranaense...

Adinkra V

Para entender o que esta série está explicando, veja seu início no dia 01.12.2003.

Akoma (o coração). "Nya akoma (tenha coração)." Tenha paciência. Símbolo de paciência e resistência.

Biribi wo soro. "Nyame biribi wo soro na ma embeka mensa (Deus, há algo no céu, deixe-me alcançá-la)." Um símbolo de esperança.

Nsoroma (criança celestial). "Obu Nyankon soroma te Nyame na onte neho so” (Um filho do Ser Supremo, eu não dependo de mim mesmo. Minha iluminação é somente um reflexo da Dele).

Krado - mmra krado (Selo de lei e ordem). Simboliza a autoridade da corte do rei.

Kodee mowerewa (as garras da águia). Isso se diz quando a cabeça de algum empregado da corte deve ser raspada (indica a autoridade, a ordem do rei).

 

Em breve mais.... escrevam !!!

 

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